A notícia da contratação do ex-goleiro Bruno pelo Rio Branco F.C. nos chegou na manhã desta segunda-feira, 27, através da imprensa, que relatou o anúncio feito pelo presidente do clube, Neto Alencar. O dirigente disse que esta é “a maior contratação do Rio Branco este ano e uma das maiores de sua história”. Campeão nas estatísticas de violência de gênero, o Estado do Acre e as mulheres acreanas não merecem mais esse golpe! Um acinte à causa das mulheres e à violência que campeia o nosso estado.
O sentimento é de impotência frente a essa contratação por um clube de futebol do Acre. Não se trata de discutir direito à progressão da pena e à ressocialização dos condenados por crimes. Por óbvio que todos têm esse direito, consubstanciado na Constituição Federal e na lei.
D’outro norte, é preciso observar que o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasial (CFOAB) já emitiu entendimento sedimentado em súmula acerca da entrada de homens acusados de violência doméstica nas fileiras da Ordem. Assim, é claro o posicionamento da OAB enquanto entidade representativa de classe, que repudia os discursos machistas ou que trazem o machismo de forma sub-reptícia, pois, no sistema OAB, se um advogado cometer um crime de violência doméstica correrá o risco de ter sua inscrição negada ou sua carteira cassada – por perda da dignidade profissional.
Cabe lembrar que Bruno ainda cumpre sua pena e ainda pesa sobre ele a acusação da ocultação do corpo de sua vítima, essa sim, impossibilitada de qualquer “segunda chance”. Trata-se de um feminicídio bárbaro, cometido com requintes de crueldade, por quem era ídolo. Não se pode admitir encarar com naturalidade vê-lo ser reinserido através do esporte que o consagrou, quando era ovacionado nos gramados do País.
É preciso observar com atenção os discursos de igualdade de gênero e não mostrar tolerância com situações deste jaez. A elevação de uma figura com passado tão nefasto à condição de ídolo exercerá, com toda certeza, influência negativa e perniciosa em nossas crianças e nos próprios homens, já que aqueles com viés agressor poderão se sentir encorajados e apoiados em seus atos violentos e ideias machistas. É um preço pesado demais a ser suportado.
Por isso, a contratação pode ser encarada como um desrespeito para com todas as mulheres acreanas, em especial aquelas que foram ou são vítimas de violência doméstica.
Rio Branco – Acre, 27 de julho de 2020
Comissão da Mulher Advogada da OAB/AC
Conselheiras seccionais da OAB/AC